Mendigos

Mendiga (Gilberto Russa)

Mendiga (Gilberto Russa)

Moço, um pouco de pão, circo, cachaça e um falso amor, por favor, que eu tenho medo de morrer em agonia. Um pouco de ilusão triste e repetitiva, e uma rua estreita bem suja, onde eu possa encontrar quem afogue minhas lágrimas por receber as esmolas que peço.

Um pouco de alegria frouxa de bebida, de riso e ironia, por saber que ando perdida. Um pouco de dor pra me fazer companhia enquanto tergiverso pela enésima vez sobre as feridas que amo.

Se não for pedir muito, fica comigo só hoje, porque eu não tenho medo do escuro, eu não tenho medo da vida, eu tenho medo é de mim, eu tenho medo é da minha companhia, é o espelho que me mortifica.

E, se não for pedir muito, quando me abandonar em uma rua qualquer, deixa pelo menos o pão e a cachaça, que é pra eu ter forças de adormecer fuga nas ruas de qualquer outro amor.

8 pensamentos sobre “Mendigos

  1. Como deve ser difícil viver em agonia, numa mistura de prisões e liberdades não ditas…

    Seu texto hoje me causou alvoroço e foi inevitável remexer gavetas e baús aqui dentro visando respostas.

    Não as encontrei. Mas acho que a lucidez talvez esteja mesmo na própria procura em si…. e você nos ajuda lindamente a buscar um cerne com as palavras desse post.

    Como diz a nossa amiga Clau, “um tapa na cara”!

    Continue, não pare, mas por favor, tente voltar mais cedo… Muito tempo sem suas letras causa abstinência na alma.

    Beijo “da fã”!

  2. O espelho é o desafio de Alice, para voltar a ser feliz, precisa encarar o que há nele.

    Beijo e linda vida, recebendo sempre mais do que deseja!

  3. Claudia Costa disse:

    Você me descreve tão profundamente que chego a me ver de mãos estendidas como pedinte de qualquer coisa que me desoriente os sentidos.
    Sinceramente, eu ainda vou conseguir ser politicamente correta e fazer uma “crítica literária”, rebuscada e digna dos jornais para um texto seu. Unica e exclusivamente porque você escreve como gente grande. É um blog, mas deveria ser um livro.
    Você não é blogueira, é escritora. Pior é que é nato, é dom!
    Como dizia Hemingway: “Como escritor, se leio algo ruim, acho ruim. Se leio algo muito bom, acho péssimo, porque penso sempre que é um escritor melhor que eu e, inevitavelmente acho-o ruim.” – Não há arte sem vaidade.
    Pois deixo minha vaidade de lado pra te dizer que você é grandiosa nas palavras que partilha por aqui. O mundo precisa ler!!

    Sucesso, moça abusada!

    • Inge Lobato disse:

      Minha amiga linda, eu leio e releio seu comentário e fico tentando agradecer à altura todo esse carinho, essa generosidade enorme, mas fico frustrada porque é o tipo de coisa que só o “obrigado” não parece servir. Já escrevi e apaguei várias linhas aqui, mas nada parece suficiente. Isso porque seu comentário é apenas uma das suas várias atitudes generosas, como a ligação de ontem, que me deixou agradecida à vida por ter por perto pessoas como você. O que eu posso dizer é obrigada, grata demais por você compartilhar sua vida e a paixão pela palavra e escrita comigo. É uma honra tê-la em minha vida e um prazer enorme te ler… sou encantada demais pelas suas linhas carregadas de vida que são inspiração para as que eu exponho aqui. Um beijo enorme da fã e sucesso sempre!! 😉

  4. Gilberto Russa disse:

    Inge Lobato…a minha pintura, o teu comentário…expressa algo perdido algo encontrado no mendigo amor, como o descrevi na ponta do pincel e nas cores da minha alma, como toda a mendiga pintura dela mesmo.

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